terça-feira, 9 de agosto de 2011

“Eu queria ser constante...”



Que saber de uma? Pois eu não! 

Não quero ser constante, acho que nunca nem quis, desde quando concebido, e se for olhar de perto foi bem nesses nove meses que fui mais fisicamente inconstante em minha vida.

Constância é coisa de quem não tem criatividade para ser diferente, para quem olha todo dia pro mesmo horizonte e crê que ainda é o mesmo horizonte visto em outrora. Constante é uma coisinha mais chata que inventaram para se colocar nas equações (que são mais chatas que as constantes). Coitado do Pi, é o mesmo e constante desde quando foi descoberto. Constante é ficar girando em torno de si, e assim não sair do lugar.

Minha constância é a inconstância.

Beaga, 09 de agosto de 2011, depois de um inspirador comentário no Facebook




quarta-feira, 25 de maio de 2011

Missa de Domingo

Domingo de manhã. Vejo uma senhora, com aquele ar de beata devota do interior, subindo aos pés da escadaria da Igreja de São José, antes de subir o segundo lance de escadas, de um total de quatro, ela para e toda benevolente olha para cima, contempla a imensidão do céu e admira a bela fachada da Igreja, respira fundo e mete a mão na bolsa procurando por algo aparentemente diminuto. Matei a charada. Obviamente ela está procurando aquele antigo terço de contas dado pela sua avó em leito de morte e que mais tarde ela conseguiu que o Papa João Paulo II abençoasse quando veio ao Brasil. No fim de meu devaneio ela encontra o objeto procurado. Saca-o da bolsa. De dentro de um saquinho preto, que muito se assemelhava a uma meia, ela o tira, contempla novamente a Igreja com aqueles olhos que diziam “ainda bem que lembrei dele antes de entrar”, pega-o,  coloca no silencioso, põe de volta no saquinho, esse na bolsa e segue para sua missa matinal de domingo. oO


Belo Horizonte, 1º de maio de 2011, terceiro lance de escadas da Igreja de São José.

terça-feira, 29 de março de 2011

Saudade x Presente

Para não ter saudade do tempo em que eu era feliz e não sabia,  me permito, então, ser feliz todos os dias!

Beozonte, 29 de março de 2011

quarta-feira, 23 de março de 2011

Sobre os Venenos


Discordo da sabedoria popular ao que ela diz sobre o efeito venenoso da língua humana.

Atribuindo a cada parte de nosso corpo uma arma, à língua caberia o punhal, pois fica embainhado, só esperando pelo momento de ser sacado e utilizado para o bem ou para o mal, pode ferir, pode salvar, pode cortar, pode simplesmente cutucar, causando do dano mais leve e sutil ao mais mortal, pode ser sem cega alguma, só para adornar, ou afiado a ponto de não temer qualquer superfície. O seu portador, sabendo fazer bom uso pode causar uma morte lenta e dolorosa, ou instantânea. Mas não estou aqui pra falar de punhais, dissertarei sobre venenos, provavelmente a mais antiga das armas.

Continuando no processo de comparação, o veneno, caro leitor, caberia a que parte de nosso corpo? Podes adivinhar? Acertou aqueles que disseram o olhar!

Sim o olhar, o mais sutil dos venenos, uma vez que tal artimanha não serve só para nos levar ao último suspiro de nossas vidas, mas também para causar angústia, dormência, topor, alterações de consciência, excitação...

Sendo conhecedor das suas variadas formas de uso, como doses e tempo de administração, o utilizador pode obter efeito imediato, dependendo da intenção tem efeito gradativo, aos mais desavisados tem efeito retardado, somente aos mais resistentes, ou insensíveis, não surtirá efeito algum...

Aos inimigos doses de cianureto, de acordo com a dose e tempo de exposição vai do levemente tóxico ao letal; aos indiferentes veneno de serpente, causador do frio; aos amores extrato de beladona, age no coração, causa calores, dilata as pupilas, dá palpitações. Só não os recomendo para o mau, pois é preciso saber que se não houver cuidado em sua manipulação pode-se acabar provando do próprio veneno.

Mas, como o uso dos venenos caiu em desuso, parece que o dos olhares segue a mesma vertente, infelizmente. Estamos cada vez mais impessoais, usamos e abusamos cada vez menos da presença das pessoas e cada vez mais da tecnologia, não sabemos aproveitar os momentos que estamos na presença de alguém, são sempre conversas rápidas sobre nada. Não há olhares, não há toques (a esse atribuo as armas de eletrochoque, de ação imediata, podem causar paralisia, seu efeito fica marcado na memória e ainda há estudos sobre mortes ocasionadas por seu uso).

Diante disso faço um apelo: Reaprendamos a utilizar nosso arsenal para que possamos combater da melhor forma nosso bom combate, assim não perdemos oportunidades que nos surgem por não saber como lutar por elas, talvez aí estejam trechos do tão buscado caminho para a felicidade.


Belo Horizonte, 23 de março de 2011